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segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

PIPOCAS DA VIDA...

Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser
milho para sempre.

Assim acontece com a gente.

As grandes transformações acontecem quando passamos
pelo fogo.

Quem não passa pelo fogo, fica do mesmo jeito a vida
inteira.

São pessoas de uma mesmice e uma dureza assombrosa.

Só que elas não percebem e acham que seu jeito de ser
é o melhor jeito de ser.

Mas, de repente, vem o fogo.

O fogo é quando a vida nos lança numa situação que
nunca imaginamos: a dor.

Pode ser fogo de fora: perder um amor, perder um
filho, o pai, a mãe, perder o emprego...

Pode ser fogo de dentro: medo, ansiedade, depressão,
sofrimento, cujas causas ignoramos.

Há sempre o recurso do remédio: apagar o fogo!!!

Sem fogo o sofrimento diminui. Com isso, a
possibilidade da grande transformação também.

Imagino que a pobre pipoca, fechada dentro da panela,

lá dentro cada vez mais quente, pensa que sua hora
chegou : vai morrer.

Dentro de sua casca dura, fechada em si mesma,

ela não pode imaginar um destino diferente para si.

Não pode imaginar a transformação que está sendo
preparada para ela.

A pipoca não imagina aquilo de que ela é capaz.

Aí, sem aviso prévio, pelo poder do fogo a grande
transformação acontece : BUM!!!

E ela aparece como uma outra coisa completamente
diferente,

algo que ela mesma nunca havia sonhado.

Mas ainda temos o piruá, que é o milho de pipoca que
se recusa a estourar.

São como aquelas pessoas que, por mais que o fogo
esquente, se recusam a mudar.

Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa
do que o jeito delas serem.

A presunção e o medo são a dura casca do milho que não
estoura.

No entanto, o destino delas é triste, já que ficarão
duras a vida inteira.

Não vão se transformar na flor branca e macia.

Não vão dar alegria para ninguém.


Fonte: Livro - O amor que acende a lua de Rubem Alves.

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